terça-feira, 26 de julho de 2011

O herdeiro de Shesta -Capitulo quatro-




|Tia Rita
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Provavelmente você tem uma tia Rita e se não tem deveria ter. Tia Rita é uma Tia que sabe como irritar inconscientemente um sobrinho, ela é naturalmente gorda e dá presentes desagradáveis pra todos, meias, cuecas, grampo, entre outras coisas que ninguém quer ganhar em qualquer data comemorativa.
Ela quer estar sempre certa, ela acha que está sempre certa, ela acredita nisso mesmo se ela estiver errada. Ela confunde até mesmo os nomes mais simples e as faces mais diferentes. O bolo dela é relativamente delicioso, todos gostam, com exceção de crianças. Cabelo curto e um pouco semelhante com o de Vitor.
Vitor sabia muito bem o que ia acontecer quando chegasse lá.
Era uma casa nem grande e nem pequena, com apenas uma janelinha no segundo andar e uma porta de madeira no primeiro. Uma casa de cor clara, lilás. Vitor sempre questionou essa cor especificamente nessa casa, tia Rita odiava lilás.
- Ah, crianças! Ah quanto tempo – Disse Rita com um sorriso estampado em seu rosto rechonchudo.
- Oi- Disseram os quatro irmãos num tom desanimado.
Vitor tinha três irmãos, Natalia era uma loira tingida de 13 anos com um temperamento explosivo, como diria sua mãe, ela gostava da cor rosa e azul e estava vestindo roupas com essas cores, odiava e amava tudo em sua volta. Edmundo tinha 19 anos e era o mais velho, não pense que ele era o mais responsável por isso, ele era considerado pelos irmãos um: “babaca que se acha.” Ele era desajeitado e usava roupas rasgadas, seu cabelo tinha mechas vermelhas e ele vivia cuspindo. Vivia com uma expressão de raiva no seu rosto, mas no fundo era um cara legal. E por ultimo, Tamires, Ela era a irmã favorita de Vitor, não que ele não gostasse da Natalia, mas ele tinha um carinho especial por essa, ela até jogava RPG com ele, e Tamires sempre escutava o problema de todos os irmãos. Ela era a mais madura, a mais inteligente, e a mais propensa a ser Presidente do Brasil, é claro que isso não é grande feito se comparar com o que realmente ela é capaz. Ela era pacifica e naturalista, suas roupas eram simples e ela era vegetariana, gostava de música clássica e tinha dezessete anos. Seu cabelo vivia preso e quando o soltava era simplesmente apaixonante. Vitor também tinha uma mãe, mas não tinha pai, talvez esse fato tenha unido Vitor Thiago e Ângela, eles não tinham um pai. Isso sempre foi difícil pros três.
Mas Vitor ainda assim tinha alguém, ele tinha um padrasto, era o único dos irmãos que não ia com a cara dele. O nome de sua mãe era Mônica e ela tinha um rosto bonito apesar dos seus trinta e oito anos, ela gostava de ler livros e tomar chá com as amigas, tinha o cabelo curto e escuro. Seu padrasto chamava-se Michael e era difícil não gostar dele. Ele era magrelo e brincalhão, chegava ser irritante às vezes. Seus olhos eram verdes bem claros, encantava qualquer garota, Seu cabelo era preto e cheio de cachinhos.
-Boom dia- Disse Michael- que bom te ver Rita.
- É- Disse Rita rindo- eu sei
A risada dela era irritante, era bem semelhante com um soluço.
-Entrem, entrem. - Disse ela gesticulando com o braço- fiz bolinhos de chuva.
-Chuva- Disse Vitor entrando na casa – Não me fale em chuva, chega a ser irônico.
- Hohohoho- Riu tia Rita. - Não é pra tanto Vitor, essa chuva vai passar.
-Escuto isso desde o mês passado- Disse ele.
-Não está chovendo desde o mês passado. Só espero que mandem algum grupo técnico cientifico pra prevenir catástrofes no futuro ou pra pelo menos explicar por que chove tanto– Disse Tamires limpando os pés no tapete de entrada escrito:
“bem vindos”.
- É o fim dos dias!- Exclamou Edmundo rindo.
-Tia Rita- Disse Natalia – cadê aquele vestido que disse ter comprado pra mim?
- Paciência!- Disse Rita com um tom musical muito agudo e desafinado.
Mônica e Michael foram para cozinha com Rita, seus filhos permaneceram na sala assistindo tevê. Vitor manteve-se assim até escurecer. Assim que escureceu ele resolveu tomar um ar lá fora, já estava cheio de bolinhos de chuva e seus ouvidos negavam qualquer palavra saída da boca de Rita, estava cheio das fofocas. A única coisa que fazia com que ele continuasse indo era o fato de querer saber por que sua família vai sempre, tudo bem que é isso que uma família faz, mas não deixa de ser chato. Deveria ter um motivo em especial, algum interesse, Pelo menos era nisso que ele acreditava. Recusava-se a perguntar pros seus pais por medo.
Ele saiu pra fora da casa, respirou bem fundo e observou a paisagem em sua volta.
Sem pássaros, sem pessoas, só a lua aparecendo e o vento batendo nas folhas das arvores.

Silencio.

Resolveu então caminhar, como era sem graça ter que ir à casa da sua tia, não podia desapontar os pais dizendo: Não vou.
Acabou esbarrando em alguém, derrubando um monte te papéis que a mesma carregava. Estava muito distraído se lamentando que nem olhou o rosto.
-Desculpe- Disse ele pegando os papéis do chão- foi culpa minha... Ou deveria dizer: “da minha tia”?
- Tudo bem, mas o que sua tia tem haver com isso?- Disse a voz suave e delicada.
Era uma garota, e que garota! Vestia um vestido negro, sua maquiagem também era escura dando uma aparência gótica ao visual. Seu rosto era lindo ao ponto de deixar qualquer homem a desejar. Olhos castanhos claros e um nariz um pouco empinado.
O vento envolvia seus cabelos lisos enquanto ela sorria, era contagiante.
- É... É q-que eu estava me lamentando p- por ter vindo visitá-la- Gaguejou Vitor.
“Não posso sair daqui sem antes tirar uma foto dela” pensava ele.
-Entendi, obrigada por ter me ajudado- Disse ela gentilmente com sua voz encantadora.
Sua voz também era linda? Como isso poderia ser real? É perfeito, no fim das contas valeu a pena não desapontar os pais com bobagens como achar preferível ficar em casa.
- É... - Vitor estava se esforçando pra dizer algo, mas seu cérebro ainda estava processando aquela informação.
- Bom, tchau e desculpe- Disse ela se retirando.

Diga algo Vitor, diga.

- Espera!...- Gritou ele. - Eu já vi você antes?
-Não- respondeu ela – Vou indo.

Diga algo que prenda a atenção dela!

- Você tem email? Telefone? Qualquer coisa? Não quero perder contato- Disse ele – são poucas às vezes que esbarro em uma garota tão linda.
Isso não é hora pra ser sincero, seu idiota!
Nem ele acreditava no que acabara de dizer.
-Tudo bem- Disse ela pegando uma agenda no bolso e anotando seu numero de celular- Você parece ser bem legal. Liga-me hoje se puder, podemos marcar um encontro.
Vitor pegou o papel pasmo e a observou partir.
-Beleza- Disse ele dando um sorriso sorrateiro.

Assim que chegou à casa de sua tia, se espantou ao ver que tudo estava quieto, sem fofocas ou risadinhas irritantes. Todos estavam na sala vendo o noticiário.
Ele sentou-se, e tentou prestar atenção, alguma coisa importante deveria ter acontecido já que todos estavam quietos.
O repórter do canal cinco dizia: Estamos aqui na zona sul de são Paulo, onde ocorreu algo que causou espanto aos moradores da região. Parece que a diretora da escola Romeo de Dantas foi morta há algumas horas atrás por um animal feroz, as autoridades estão pesquisando mais a respeito, pois nunca houve indícios nesta região sobre ataques de animais selvagens. A policia está investigando que tipo de animal provocou esses danos, eles acreditam que possa ter algum envolvimento de gangues e a única prova do ocorrido está numa câmera localizada em uma casa próxima de onde ocorreu o ataque seguido de morte. As autoridades não liberaram a filmagem inteira, mas conseguimos 32 segundos.
Começaram a aparecer imagens de vídeo na tela, as imagens tremulas e borradas mostravam um animal quadrúpede de mais ou menos um metro de tamanho e uns dois de largura, saindo da escola rapidamente. Era impossível enxergar muito alem disso, não tinha cores, nem detalhes, não era possível deduzir que animal era.
O vídeo encerrou e o repórter voltou a falar: Aqui é Leandro Siqueira para o jornal nacional.
O âncora do jornal fez uma cara de espanto e continuou:
-Aguardo mais informações, vamos agora para a previsão do tempo, Simone...

-Alguém tem idéia de que bicho era? – Perguntou Natalia assustada.
-Talvez... –Disse Tamires, mas foi interrompida por Edmundo.
- Chupa-cabra – Brincou ele – Pois é dessa forma que considero aquela diretora.
- Uma cabra? – Protestou Vitor – Um pouco mais de respeito com os animais, temos uma vegetariana aqui.
- Não está um pouco cedo pra piadas- Disse Tamires saindo da sala chateada.
- É rir pra não chorar- Disse Edmundo tentando se redimir.
Vitor deu um longo suspiro e foi atrás de sua irmã.
Ela estava no quarto de tia Rita que fica próximo a sala, sentada na cama e olhando fixamente pras paredes.
Vitor chegou ao quarto e se apoiou no batente da porta, ele estava pensando no que dizer, tinha que tomar cuidado com as palavras. Se conhecia bem sua irmã, já suspeitava do que se tratava.
- O que você tem Tami?
-Nada. - disse ela secamente.
-Eu te conheço muito bem, sei que você usou o que falamos sobre a diretora como um pretexto pra manifestar sua raiva discretamente.
- Você está dizendo coisa com coisa. - Disse ela sorrindo sorrateiramente – Eu sei que você se importa comigo, mas não posso dizer o motivo da minha frustração... Prometi guardar segredo.
-Eu prometo guardar segredo- Disse Vitor- me conte.
Ela ajeitou o cabelo pensativa.
-Tudo bem... É que... – Tamires estava quase dizendo, foi quando Natalia entrou no quarto e disse: Mamãe pediu pra irmos nos despedir da Tia, já vamos ir embora.
Vitor olhou fixamente pra Natalia e depois pra Tamires.
-Vamos então. – Disse Vitor ainda olhando Tamires.

A viagem de volta pra casa foi tranqüila. A chuva não estava tão forte, e as ruas estavam sem transito.
Vitor ficou pensando no que poderia frustrar sua irmã e que animal teria matado a diretora. Será que Tamires iria contar o motivo? Será que a policia conseguiria descobrir que animal era? E se isso tem envolvimento com gangues.
As coisas são bem mais fáceis pra quem não se importa.

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